Postado em 11 de maio de 2020

As dez mil mortes, ou a estratégia de confusão

Autor(a): Humberto Azevedo

Nesta última quinta-feira, 7, o Brasil alcançou o registro de 9.146 óbitos causados em virtude da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Ao mesmo em que número de infectados alcançava mais de 135 mil casos. O número de mortes, a tendência dos últimos dois dias pela notificação do Ministério da Saúde, alcança 600 registros por dia e o número de contaminados avança, em média, pela notificação oficial, dez mil novos brasileiros diariamente.

A evolução da doença que já nos colocou como no seu mais novo epicentro aponta para que neste sábado, 09 de maio, quando o jornal Vale da Eletrônica ganhar às ruas de Santa Rita do Sapucaí, possamos alcançar, infelizmente, o registro da morte de número 10 mil. E tudo isso porque a doença encontrou aqui um ambiente perfeito para se proliferar: o desrespeito às recomendações médicas incentivado pela obsessão do presidente da República, Jair Bolsonaro, que insiste com a sua narrativa de manter em isolamento apenas os idosos e os doentes.

Desde o primeiro dia, Bolsonaro vem batendo nesta tecla, promovendo crises atrás de crises e nada é feito. E nada será feito. A não ser que a insatisfação da população brasileira se manifeste como se manifestou no final de 2.015 e início de 2.016, tomando às ruas, para demonstrar todo o seu descontentamento com a então presidente Dilma Rousseff. Fato que neste momento está e estará descartado em virtude da doença que nos persegue enquanto uma vacina não for inventada.

Sabendo disso e seguindo direitinho o roteiro descoberto e contado no livro “os engenheiros do caos” do sociólogo italiano Giuliano Da Empoli, o presidente brasileiro segue o seu script para confundir no varejo enquanto ataca no atacado. Na obra de 121 páginas, Da Empoli conta “como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições”

Enquanto Bolsonaro chama a atenção para o discurso cada vez mais bruto, que nega a ciência e que trata com desdém a doença que já matou quase 270 mil pessoas em todo o mundo, atraindo parte do seu eleitorado mais radical para os embates com aqueles que ele considera seus adversários, suas atitudes políticas não escondem sua ambição de se tornar um novo ditador no país, assim como os generais dos anos 60, 70 e 80.

Oferecendo cargos aos políticos que sempre vão ser governo, independente de que governo seja, o presidente brasileiro confunde parte do eleitorado que o escolheu mandando um recado que não tem como governar, na democracia, sem acordos e o velho “toma-lá-dá-cá”. Se numa mão se consorcia com que até então renegava, na outra alimenta a sua vocação para o autoritarismo.

Sua performance não está interessada nos problemas que o covid-19 veio lhe causar ao seu governo. Bolsonaro é apenas um detrator dos regimes democráticos. Continuará atacando e vilipendiando a frágil democracia brasileira até o ponto em que conseguirá deteriorar as bases do regime democrático instituído pela Constituição de 1.988. Pode até ser que consiga isso, afinal estão deixando. Mas tenho dúvidas que será ele aquele que se beneficiará diretamente de um novo regime que pode se implantar.

O seu namoro com o “centrão” dos vários partidos que não possuem linhagem ideológica definida e assim conseguem apoiar e fazer acordos com todo mundo do meio político é também uma forma de neutralizar um possível pedido de impeachment que ele possa sofrer no Legislativo. Por isso, as garras dos seus apoiadores mais enfáticos estão todas voltadas para atacar os ministros do Supremo Tribunal Federal. Se há chance de acontecer o afastamento, essa acontece pelas mãos do Judiciário.


* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Alfenas Hoje

Humberto Azevedo
Jornalista e consultor político
Humberto Azevedo é jornalista profissional, repórter free lancer, consultor político, pedagogo com especialização em docência do ensino superior, além de professor universitário, em Brasília (DF).



Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Informamos ainda que atualizamos nossa

Estou de acordo